Para quem está iniciando na modalidade da pesca com iscas artificiais, a primeira lição é aprender a carregar e descarregar a ação da vara, seja ela qual for. carregar a ação da vara significa fazê-la trabalhar o arremesso. Normalmente o que se vê é o braço do pescador trabalhando o arremesso, e não a vara. Num arremesso normal até pode funcionar, pois o ato de levar o braço para trás faz com que a vara “carregue” a ação.
Porém, será impossível por exemplo, efetuar um arremesso 360º sem carregar a ação da vara, e com o braço não será possível fazê-lo. O braço deve trabalhar na sustentação da vara e direcionamento para o alvo, o punho atua para carregar e descarregar a ação bem como quanto de carga se carregará afim de atingir o alvo (está diretamente relacionado com a precisão), e a vara é que impulsionará a isca para o ponto a ser atingido. Por isso é muito importante utilizá-la dentro das capacidades previstas. A importância do ato de carregar e descarregar a ação da vara reside não apenas na utilização correta para a qual foi destinada, mas principalmente nos arremessos possíveis de se realizar trabalhando-a adequadamente. existem situações que impõem arremessos diferenciados, sob pena de não se conseguir arremessar. Por exemplo: arbustos ou pessoas de ambos os lados e galhos por cima. Como arremessar numa situação dessa? O arremesso “Underhead Cast” é uma das possibilidades, mas não a única (há o “360º”, o “Slingshot Cast” e o “Flippin Cast”). Só que para efetuá-los se necessita antes aprender a carregar e descarregar a ação da vara. E isso para a imensa maioria dos arremessos. Aliás, acredito que o único arremesso para o qual não é necessário carregar a ação da vara é o Pitching.
Tomando por base uma vara de ação rápida, com seis pés (1,82 m), capacidade para linhas entre 8 lb. a 17 lb. (de +- 0.28mm a +- 0.35mm, dependendo da marca e modelo da linha), e capacidade de casting para iscas de 1/4 oz. até 3/4 oz. (7 gr. até 21 gr.), vejamos como fazer. Para quem usa carretilhas, é aconselhável que ela seja regulada para “arremessos contra vento forte”, ou seja, com toda a carga do freio (magnético ou centrífugo) atuando sobre o giro do carretel, além de ajustar muito bem a sintonia fina, pois senão o risco dela armar uma cabeleira será muito grande, já que inicialmente não teremos condições de controlar a descarga da ação, ainda mais numa vara de ação rápida. Depois, ata-se um snap na ponta da linha (facilita a troca de iscas) e monta-se nele uma isca de aproximadamente 12 gr. (7/16 oz.). O motivo para a isca “pesada” é que ela facilita bastante adestrar o ato de carregar e descarregar a ação da vara, eis que o peso, por si, já imprime uma carga e uma descarga muito boa (no mercado existem pe-sos próprios para esse fim, embora difíceis de serem encontrados. O melhor é aproveitar uma isca velha ou que não se usa, tirar suas garatéias e passar a praticar com ela). Aí, com a vara estendida para a frente, o braço levemente flexionado para cima de forma que o punho posicione a vara apontada para a frente (não para cima acompanhando o braço, mas para a frente), experimente levantá-la até a altura do rosto (preferencialmente no centro deste, o que imprimirá maior precisão no arremesso) com pouco deslocamento do braço e muito do pulso. Quando a vara estiver se aproximando, detém-se – COM O PULSO – o deslocamento da vara. Ou seja, pára-se abruptamente de levantá-la. Você notará que a vara, devido à inércia, tentará continuar o movimento, chegando a vergar na direção do rosto. Quanto mais rápido for o deslocamento e sua parada súbita, mais a vara tenderá a continuar o movimento, o que causará maior pressão e a fará vergar mais. O fato da vara vergar devido à inércia, tentando continuar o movimento abruptamente interrompido, é justamente o ato de carregar sua ação.
O contrário, ou seja, quando a vara chega no limite da carga e inicia seu retorno à posição normal, é a descarga da ação. O peso da isca imprimirá maior carga e descarga. O segredo reside justamente no melhor aproveitamento dessas ações sucessivas que ocorrem em tempos ínfimos. Assim, após a completa carga da vara e, a partir do momento em que ela começa a descarregar, quanto mais suavemente conseguir-mos aproveitar a descarga da ação, melhor será o arremesso, tanto em distância como em precisão. Suavemente não quer dizer devagar, mas sim sem imprimir ações bruscas afim de conseguir maior distância. O que importa é aproveitar a continuidade da descarga imprimindo maior (acelerando a descarga) ou menor velocidade (amortecendo a descarga) de forma suave.
Quando temos oportunidade de observar especialistas arremessando podemos notar quão pouco esforço eles fazem para que a isca atinja distâncias absurdas e, ao mesmo tempo, incrivelmente precisas. Não poucas vezes, podemos ver o controle que eles exercem sobre a isca, desde o arremesso até o “pouso” suave na água. Isso é possível a eles devido ao intenso treino no ato de carregar e descarregar a ação da vara, chegando mesmo a exercer controle na carga e, principalmente, na descarga, para que a vara lhes proporcione o arremesso pretendido.
Muito antes da precisão, porém, aprender a carregar e descarregar a ação da vara é item prioritário para quem pretende efetuar arremessos com iscas artificiais. Treinando bastante – aí sim – logo se estará apto a colocar uma isca na “janela de captura” do peixe. Mas isso é outra história.
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